Montanhismo e Liberdade

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Travessia Lapinha x Tabuleiro

 Não acrescente dias a sua vida, mas vida aos seus dias - Harry Benjamin

Então, chegou o grande dia da equipe pegar a estrada novamente. Nosso destino é a travessia mais clássica da região da Serra do Cipó, a tão sonhada Travessia Lapinha x Tabuleiro. Lapinha da Serra, como é conhecida fica no distrito de Santana do Riacho, já Tabuleiro fica no  distrito de Conceição do Mato Dentro, ambos em Minas.

Ah, Minas Gerais, já sabemos que tu és bela!… mas fomos surpreendidos novamente ao conhecer mais uma parte da Cordilheira Brasileira, um pedacinho da Serra do Espinhaço.
E é isso mesmo. A Serra do Espinhaço, um lugar simplesmente i-n-c-r-í-v-e-l!  É uma cadeia de montanhas que se estende em uma linha Norte-Sul entre os estados de Minas Gerais e Bahia, compreendendo, dentre outros trechos, as conhecidas Serra do Cipó e Chapada Diamantina – só de saber dessa parte você já começa a criar certa expectativa sobre a beleza do lugar, não é mesmo!?

Pois bem, de mochila pronta largamos nossas casas, percorremos alguns quilômetros de carro até Lapinha.

Trajeto de carro de Viçosa à Lapinha da Serra.

Chegamos a Lapinha já era noite, fomos bem acolhidos na praça por uma rodinha de amigos que também nos indicaram o camping (Camping Raízes), local onde passaríamos a noite. Com acampamento montado, fomos jantar...

Amanheceu! Da porta de nossas barracas, entre árvores avistamos o magnífico Pico da Lapinha, e logo pensamos, daqui a pouco chegaremos ao cume!

Depois de um belo café da manhã e de mochilas prontas, iniciamos a nossa travessia, tendo como guia o Garmin etrex 30, o GPS.


GPS Garmin etrex 30, muito preciso e resistente a água. Indicado.


Deixamos Lapinha... Entre trilhas de “zigue-zagues” uma parada e outra apreciávamos toda aquela beleza que íamos deixando para trás a cada passo. De repente, estávamos no cume do Pico da Lapinha, com 1.580 m de altitude, com vista privilegiada para a Represa da Usina Coronel Américo
Teixeira, mais conhecida como represa da Lapinha, que é de tirar o fôlego.


Da Cruz no cume do Pico da Lapinha, admire um dos mais belos visuais da sua vida!

Após alguns minutos de contemplação e hidratação, partimos, pois ainda havia muito chão a ser percorrido. Em meio à trilha paramos para abastecer os cantis e nos deparamos com uma cobra tomando, digamos, um "banho de sol".



De pé na trilha, de baixo de sol forte, percorremos por um campo aberto com um belíssimo vale. Com alguns quilômetros percorridos em meio a afloramentos rochosos avistamos o Pico do Breu, com 1.687 m de altitude. Ele é o ponto mais alto da travessia. Fizemos uma rápida parada bem a sua frente para lanchar e observar o “zigue-zague” que iríamos fazer até a crista que nos levaria para o topo coberto por campos rupestres.

Fizemos uma pequena parada no topo do Breu, começamos a deixar o cume mais adiante quando o declive se acentua descendo em campo aberto e sem trilha definida. É uma descida desgastante e bastante íngreme, mais todo esforço vale a pena, ainda mais quando se avista a Prainha.

Toda a diversidade do ecossistema local é encontrada durante o percurso com seus campos rupestres, sempre-vivas gigantes, o típico cerrado mineiro e rios de água escura.



Prainha, um oásis em meio a um ambiente seco e desértico.

A partir da Prainha a trilha começa com uma subida rápida e tranquila até cruzar algumas cercas de arame e porteiras. Ao observar o relógio perto da casa da Dona Ana Benta, constatamos que tínhamos tempo suficiente para chegar à casa de Dona Maria,  ganharíamos mais tempo para curtir a Cachoeira do Tabuleiro no dia seguinte. E assim, continuamos no rala bota.

Depois de muitas passadas, subidas e descidas, o tempo fechou rapidamente, uma tempestade se aproximando, não havia onde nos abrigarmos, era um campo aberto, o tempo foi só de tirar o sobre-teto da barraca e formar uma rodinha e se cobrir. Montanhismo é isto, nem tudo são flores, perrengue faz parte, a chuva veio acompanhada por granizo, durante uns 30 min. E o perrengue não parou por ai não, descemos aproximadamente 1 km, eis que surge um rio, antes um córrego, mas se encheu devido a tempestade. Era impossível atravessar. Estava enchendo muito rápido. Tivemos que agir rápido.


Formação de tromba d'água na Serra do Breu.

Corremos rio acima até achar o ponto que ele se divide para atravessar, fizemos uma ponte com a própria vegetação e atravessamos três rios já no escuro. Mais alguns quilômetros e chegamos à casa da Dona Maria por volta das 21h e 15 min. Fomos montar o acampamento e preparar a janta.
Pois fique tranquilo, a Serra do Espinhaço faz por merecer. Dia seguinte após a chuva, o sol nasce lindo.

 O 2° dia é o dia mais tranquilo, fizemos o ataque ao topo da Cachoeira do Tabuleiro. A trilha segue subindo durante uns 30 minutos e depois começa uma descida constante até chegar ao rio da Cachoeira do Tabuleiro. Daí é só seguir o fluxo da água beirando o rio, dentro da sua calha, até chegar ao topo da Cachoeira do Tabuleiro.

Mesclada pela vegetação, a cachoeira se destaca pelos seus belíssimos morros, rochedos, cânions, vales e cachoeiras. O visual é magnífico e a energia, a sensação de estar ali é inexplicável. É possível tomar banho nos poços próximo a sua cabeceira e apreciar outros poços e quedas d’água, em meio a jardins naturais com orquídeas e bromélias gigantes.




Visão da cabeceira da Cachoeira do Tabuleiro, 273m de pura queda livre.

De volta para o acampamento, é possível jantar, isso mesmo, a Dona Maria e família servem uma maravilhosa janta feita em fogão a lenha.

O 3° e último dia, recomendamos acordar o mais cedo possível, assim é possível aproveitar mais a Cachoeira do Tabuleiro, além de não sofrer com o sol escaldante na trilha. E foi o que fizemos, iniciamos a descida às 4h e 30min, trilha bem tranquila apesar de alguns trechos com pedra solta. Caminhar sob a luz das estrelas não tem preço, sensação única.

Então amanheceu e nessa hora estávamos chegando ao mirante da cachoeira, visão privilegiada, momento único e marcante. A Serra nos brindou com esse maravilhoso presente, pegar o nascer do sol de frente para a maior cachoeira de Minas.





Chegando à entrada do Parque do Tabuleiro, deixamos nossas cargueiras e fomos para a cachoeira, uma caminhada por trilha até o rio e seguida de um trepa-pedra rio acima até o poço. Caminhada de aproximadamente 1h e 30min.

Localizada no Parque Natural Municipal do Tabuleiro, no Parque Estadual da Serra Geral do Intendente, no Distrito de Tabuleiro MG à 19km da sede Conceição do Mato Dentro, a cachoeira é a mais alta de Minas Gerais e a terceira do Brasil. São 273m de queda livre, o equivalente a um prédio de 91 andares, diante de um paredão fantástico e multicolorido, de beleza monumental descem as águas frias e de tonalidade caramelo, daí, a formação de um enorme poço para banho de cerca de 20m de profundidade e é rodeado por blocos de pedras.

Aventure-se em um dos mais lindos cenários de Minas, atravessando paisagens incríveis e isoladas da civilização. Realize a travessia Lapinha x Tabuleiro, caminhada de 3 dias (42km) que nos leva a cachoeira mais alta de Minas Gerais e a terceira do Brasil.


Assista o vídeo da travessia e partilhe mais um pouquinho dessa emoção!